terça-feira, 4 de maio de 2010

VER, NO FUTURO.

O verbo ver apresenta uma irregularidade em sua conjugação, ou seja, ele não tem a mesma base (também chamada de “radical”) em todos os tempos (presente, passado e futuro). Comparando-o com “cantar”, é possível entender isso claramente: canto/cantas/canta (no presente), cantei/cantastes/cantou (no passado), cantarei/cantarás/cantará (no futuro). Para ver, temos: vejo/vês/vê (no presente), vi/vistes/viu (no passado), verei/verás/verá (no futuro). Podemos observar que, para o primeiro, a base é sempre a mesma – cant- – ao passo que, para o segundo, ela varia, de acordo com o tempo.
Mesmo com essa mudança, o falante consegue empregá-lo corretamente no dia a dia. Acontece, porém, que, geralmente, há uma confusão no futuro do subjuntivo. Futuro é fácil: tem relação com algo que vai acontecer. E o subjuntivo? Ele é um modo verbal utilizado para dar a ideia de dúvida, hipótese, possibilidade sobre uma ação; diferentemente do indicativo, que transmite a noção de certeza sobre o acontecimento. Quando digo “Eu sei isso.”, o verbo está no presente do indicativo, e há certeza sobre o fato de saber algo. Já em “Ele espera que eu saiba isso.”, a forma verbal se encontra no presente do subjuntivo, e existe uma dúvida quanto a esse saber. No futuro, temos: “Eu saberei o resultado do exame amanhã.”, e a ação é tida como certa. Em “Quando eu souber isso, lhe ensinarei.”, a ação expressa uma hipótese, algo possível de ocorrer.
O verbo ver, no futuro do subjuntivo, é conjugado da seguinte forma: vir, vires, vir, virmos, virdes e virem. Ao expressarmos a possibilidade ou a condição de ver alguém ou alguma coisa, devemos empregar uma dessas formas, de acordo com a situação. Por isso, a maneira correta de se falar ou escrever é: “Quando você vir o filme, vai entender o que estou falando.” ou “Se eu vir o repórter, darei seu recado.”
A princípio, parece estranho aos ouvidos, pois é comum se dizer “Quando você ver...” ou “Se eu ver...”. Essa construção, entretanto, não é adequada, uma vez que foge à conjugação original do verbo. Alguns acreditam que a forma “vir”, usada para a 1ª (eu) e a 3ª (ele) pessoa do singular, estaria associada, não ao verbo ver, mas ao vir (= “deslocar-se de algum lugar”). Ao se empregar o verbo vir no futuro do subjuntivo, teríamos: “Quando você vier aqui em casa, farei um almoço especial.” ou “Se eu vier amanhã a sua casa, trarei a encomenda.”
Em suma: o verbo ver tem conjugação específica no futuro do subjuntivo, que não pode ser confundida com a forma do verbo vir no infinitivo. Portanto, meu prezado leitor, quando você vir alguém com dúvidas sobre isso, repasse essa explicação. Agora, minha cara editora, se vier alguma pergunta para a redação do jornal acerca do tema, encaminhe-me, por favor.
(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 487, Cabo Frio, sábado, 29-8-2009, p.4)

Nenhum comentário:

Postar um comentário