sexta-feira, 25 de setembro de 2009

AFINAL, O QUE MUDA COM O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO?

A língua portuguesa é o único idioma do Ocidente com duas grafias oficiais, a de Portugal e a do Brasil. Esse é o motivo principal de haver uma preocupação em unificar a sua ortografia, com o objetivo de se dispor de uma ferramenta mais apta a uma aproximação entre os países que a utilizam como meio de comunicação oficial, assim como acontece com os países de língua espanhola, francesa e inglesa. Com o novo Acordo Ortográfico, será possível uma melhor circulação de livros e documentos, sem que haja a necessidade de traduzi-los, por assim dizer, como também pode fazê-la conquistar o status de uma das línguas oficiais da ONU, facilitando, então, as relações políticas internacionais. Sendo assim, é fundamental saber quais as mudanças que teremos que incorporar – novamente para alguns – quanto à ortografia.

O nosso alfabeto foi o primeiro a ser alterado. Agora, passa a ser formado por 26 letras, com a inclusão de k, w e y. Essas letras devem ser usadas em siglas e símbolos (km, para quilômetro), nomes próprios (Karla, Yasmim, Wagner), palavras estrangeiras e seus derivados (Kant, filósofo alemão, e kantismo, relativo a ele).

Uma alteração drástica foi a eliminação do trema no u átono (fora da sílaba tônica) pronunciado nos grupos gue, gui, que e qui. Lembra-se daqueles dois pontinhos em cima dessa letra, há tempo já não mais usado no dia-a-dia? Pois é, agora é oficial. A partir deste ano, é para se escrever: aguentar, bilíngue, linguiça, pinguim, cinquenta, frequência, delinquir e tranquilo. Isso vale até mesmo na poesia, que possui licença especial no uso da língua. A exceção (que não pode faltar, é claro) fica para os casos das palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros, como, por exemplo, mülleriano (de Müller).

Outra parte afetada foi a acentuação das palavras. Segundo as novas regras, o acento circunflexo (o “chapeuzinho”, para os mais íntimos) desaparece sempre que há letras dobradas. É o caso das formas verbais na 1ª pessoa do singular (referente a “eu”) abençoo, coroo, coo, moo, perdoo e povoo e na 3ª do plural (referente a “eles”) creem, deem, leem e veem, assim como seus derivados descreem, desdeem, releem e reveem. O mesmo acontece para palavras com o hiato (encontro de vogais em sílabas diferentes) oo, como, por exemplo, voo(s) e enjoo(s).

Os acentos diferenciais, empregados para distinguir palavras de mesma grafia, foram eliminados em quase todas as palavras. Dessa forma, não há mais distinção na escrita nos casos de para, preposição ou verbo, pelo e pela (substantivo, verbo ou a união da preposição “per” mais o artigo “o” e “a”), pera (substantivo apenas no singular ou antiga preposição) e polo (substantivo ou a união da preposição “por” mais o artigo “o”). Já podemos escrever sem preocupações: “Para ir ao trabalho, ele sempre para aqui.” ou “O pelo do animal estava espalhado pelo chão.”

Há, porém, acentos diferenciais que se mantiveram. É o caso do verbo pôr e da preposição por e do verbo “poder”, em que continua a diferença entre passado – pôde – e presente – pode. Assim, devem-se escrever as frases: “Eu preciso pôr meu carro por aqui.” e “Ele pode dizer que não pôde vir ontem à reunião por estar doente.” Além desses, existe o uso facultativo para as palavras fôrma e forma. Por isso, podemos escrever: “Não consegui encontrar uma forma de desamassar esta fôrma/forma de bolo.”

Quanto ao acento agudo, ele desaparece nos ditongos (encontro de duas vogais na mesma sílaba) abertos “ei” e “oi” das paroxítonas (com acento tônico na penúltima sílaba). Sendo assim, agora se escrevem: assembleia, boleia, colmeia, hebreia, ideia, panaceia, plateia; boia, heroico, jiboia, paranoico.

Há de se destacar que, nos ditongos abertos das monossílabas (com uma só sílaba, sendo ela tônica) e das oxítonas (com acento na última sílaba), não houve alteração. Logo continuam as grafias: anéis, papéis; céu, véu, chapéu; constrói, dói, herói.

O acento agudo também não mais existe no u tônico de algumas formas de verbos como, por exemplo, apazigue, averigue e argui, assim como nos hiatos antecedidos de ditongo, inclusive para o i, como em feiura, bocaiuva e cauila.

O caso problemático (para variar...) fica com o emprego do hífen, que deve receber um tratamento especial de nossa parte, uma vez que oferece (ainda) algumas dificuldades em função de orientações incompletas, por vezes incoerentes. Deixemo-lo para o próximo capítulo.

O certo é que, caro leitor ou leitora, você não precisa sair correndo ao cartório para mudar seu nome ou o de sua empresa. No Acordo, deixa-se claro que a grafia original de qualquer nome próprio, incluindo o das firmas comerciais, sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registro público serão mantidos.

(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 450, Região dos Lagos, quinta-feira, 11-6-2009, p.4)

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

VALE A PENA VER DE NOVO?

Depois de 18 anos de ampla discussão entre os países que têm o português como língua oficial, o Brasil adotou o novo Acordo Ortográfico, em vigor desde janeiro deste ano. Nós, brasileiros, aceitamos as mudanças propostas (ainda que nem todos concordem com elas) e começamos o processo de nos familiarizar com a nova grafia de determinadas palavras. Para alterar o vocabulário brasileiro em 0,43%, alguns empreendimentos foram feitos: a) o Presidente da República assinou decretos sobre a adoção e a implementação da reforma nos documentos oficiais e na mídia; b) já a partir do final de 2008, os meios de comunicação passaram a veicular, resumidamente, as novas regras; b) no mês de março de 2009, a Academia Brasileira de Letras, após seis meses de muitas análises e vários debates, lançou o novo “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa” – mais conhecido como VOLP entre os estudiosos da língua –, indicando a grafia oficial das palavras, com mais de 900 páginas, incluindo os verbetes em ordem alfabética, um lista de estrangeirismos, o texto integral do Acordo Ortográfico, com todos os anexos, relatórios e justificativas, entre outros; c) editoras fizeram a revisão dos textos de suas publicações, principalmente dos livros didáticos; d) professores saíram em busca de atualização a respeito do tema para poderem ensinar, com mais segurança, segundo essas novas regras. Enfim, houve uma mobilização geral no intuito nos adequarmos às mudanças estabelecidas pela reforma ortográfica.

Enquanto isso, em Portugal, a polêmica continuou, e o Acordo que altera o vocabulário português em 1,42%, mesmo oficializado mas ainda sem prazo para entrar em vigor, enfrenta resistência. No final do mês passado, chegou ao Parlamento uma petição assinada por 113.206 portugueses (cujo número mínimo para aceitação são 5 mil assinaturas), com o pedido de revisão de vários pontos da reforma ortográfica. Eles discordam da justificativa de que a reforma simplificaria a grafia, ajudando a combater o analfabetismo e a impor o português como língua internacional, uma vez que as mudanças propostas não têm base científica e linguística. Sua aceitação, portanto, poderá levar a língua portuguesa ao caos ortográfico.

Segundo os portugueses, algumas alterações ortográficas são confusas, visto que perdem o elo etimológico (relação com a origem da palavra), em determinados casos, a única explicação para tal representação na escrita. É o caso da possibilidade da eliminação de algumas consoantes “mudas”, gerada pela proposta da dupla grafia no novo Acordo. Por exemplo, para eles, antes da reforma, a palavra “aspecto” apresentava somente essa grafia, com a pronúncia opcional do “c”. Agora, há a dupla grafia – “aspecto” e “aspeto” – e a dupla pronúncia. Já em “acção”, o “c” não era pronunciado, apesar de existir na escrita. Com o Acordo, a grafia não apresenta mais o “c” – “ação”. A argumentação se fixa no seguinte questionamento: por que eliminar em alguns casos, e não em outros? Em resumo: o abandono da etimologia das palavras demonstra a falta de coerência interna nos critérios de mudança.

O fato é que, dos países lusófonos (de língua portuguesa), somente Brasil, Cabo Verde, Portugal e São Tomé aprovaram o acordo. Apenas o Brasil deu início, oficialmente, ao período de transição para implementação das regras propostas pela nova reforma ortográfica. Portanto, depois de pensarmos que a assinatura do Acordo encerrava as discussões oficiais sobre o tema, a polêmica foi reaberta. Resta-nos acompanhar o desenrolar dessa novela, em que os autores têm três opções para o último capítulo: 1) depois de tantas controvérsias, revogar o Acordo atual e retornar ao de 1971; 2) manter o atual, mesmo diante das discordâncias; 3)propor uma outra reforma ortográfica, que, profunda e verdadeiramente, unifique a língua portuguesa. Portugal, como um dos protagonistas, pelo visto, atua no sentido da primeira opção, e o Brasil, como o outro, já decidiu pela segunda.

(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 445, Região dos Lagos, quinta-feira, 4-6-2009, p.4)

sábado, 19 de setembro de 2009

ACORDO OU DESACORDO ORTOGRÁFICO?

Desde o momento em que se aprovou a nova reforma ortográfica entre os países de língua portuguesa que a polêmica se instaurou na mídia, nas instituições escolares e nas ruas. Como acontece em todos os processos de mudança, uns se posicionam contra e outros, a favor. No entanto, para se defender um dos pontos de vista, é necessário se conhecer um pouco da história dos acordos ortográficos anteriores entre Brasil e Portugal, a fim de se entender que o consenso nunca foi uma das características nessa tentativa de unificação das grafias do português.

A Linguística, como a ciência que estuda a linguagem humana, trouxe-nos o conhecimento das leis fonéticas. Ou melhor, com seus estudos iniciais no século XIX, foi possível observar que as línguas sofrem mudanças na forma como se pronunciam suas palavras; portanto haveria uma regularidade prevista para essas transformações. Isso permitiu que se estudasse a evolução da escrita das línguas com base científica. Tal investigação nos permitiu chegar à grafia etimológica, fundamentada na investigação da origem da palavra para explicar sua escrita num dado momento.

Essa perspectiva de estudo permitiu que, em 1904, com a publicação da obra “Ortografia Nacional” de Gonçalves Viana, começassem as discussões a respeito de uma regularização da escrita em Portugal. Antes disso, a escrita portuguesa não tinha regras definidas. Um exemplo disso é a representação da nasalidade, que poderia ser feita com a letra “m” e “n” após a vogal ou com til sobre ela. Num único texto, seria possível encontrar as seguintes grafias: “gemte” ou “gente”; ou ainda “grãde” (grande). Sendo assim, não havia a relação fonética com a consoante posterior, como teríamos mais tarde na regra aprendida nos primeiros anos da alfabetização: antes de “p” e “b” só se usa “m”, ou seja, pelo fato de a consoante nasal ser bilabial (produzida com o contato dos lábios), seu emprego só se dá diante de outra bilabial.

No Brasil, essa discussão chegou em 1907. A Academia Brasileira de Letras lançou a primeira proposta de uma grafia simplificada da língua portuguesa, a fim de regularizar suas publicações oficiais. Com isso, fez-se a organização de um vocabulário ortográfico, contendo mudanças que passariam a caracterizar o português brasileiro, uma vez que se diferenciava, em vários pontos, do sistema ortográfico de Portugal.

Foi, precisamente, no ano de 1911 que iniciou o desacordo entre Brasil e Portugal quanto a essa tentativa de uniformização da língua portuguesa. Uma decisão unilateral dos portugueses oficializou as mudanças sugeridas naquela obra de Gonçalves Viana. Tratado ainda como colônia, o Brasil não teve participação nos debates, tomando apenas conhecimento da reforma. Esse fato levou a Academia Brasileira a reexaminar as modificações propostas anteriormente e a oficializar tais regras de simplificação em 1929.

Em 1931, com o objetivo de corrigir essas posições divergentes, os dois países resolveram fazer o primeiro acordo ortográfico, adotando-se o sistema português de 1911. Daí, tornou-se obrigatório o uso da nova ortografia nas repartições públicas e nos estabelecimentos de ensino. No entanto, nos anos seguintes, algumas modificações a esse acordo foram propostas pelos dois países, para que atendessem às suas respectivas características da fala e, consequentemente, sua representação na escrita. Isto é: a uniformização propriamente dita ainda não se efetivara.

Surgiram, então, os acordos de 1943 e de 1945, que buscaram outras reformulações no sistema ortográfico dos dois países. Na prática, Portugal implementou os ajustes do segundo, e o Brasil, o do primeiro. E, ainda com o propósito de unificação, novas tentativas foram feitas em 1967, 1971 e 1973, buscando a incorporação de outras regulamentações do sistema ortográfico, mediante a retirada de algumas regras de acentuação. Mais uma vez, os acordos terminaram em fracasso.

Em 1986, no Rio de Janeiro, representantes portugueses, brasileiros e lusoafricanos (exceto Guiné-Bissau) tentaram uma unificação mais ampla entre as grafias da língua portuguesa. Para tanto, propuseram-se uma simplificação do sistema de acentuação gráfica e o fim dos acentos nas palavras paroxítonas e proparoxítonas. Considerou-se o projeto muito radical e, diante da reação polêmica contra ele, principalmente em Portugal, foi rejeitado, para evitar, como dito na época, a “desagregação do idioma”.

Somente em 1990, em Lisboa, os dois países chegaram a uma concordância quanto à ortografia comum. Com alterações menos profundas, a nova reforma ortográfica da língua portuguesa ampliou a área de abrangência, incorporando os outros países do mundo que têm o português como língua oficial (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe), passando a valer, a partir de 2009 (portanto após 18 anos de debates), para os documentos oficiais e a mídia. No ensino público, inicia seu processo de implementação em 2010 e, até 2012, as novas regras deverão ser adotadas para todo o ciclo escolar.

As modificações implementadas na grafia portuguesa, dessa vez, objetivam uma delimitação mais nítida das diferenças entre os usuários da língua portuguesa, privilegiando as pronúncias portuguesa e brasileira. Essas particularidades justificam, no atual acordo, a existência de dupla grafia para algumas palavras, como, por exemplo, “bebê”, “cômodo”, “pônei” e “fato” (no Brasil) ou “bebé”, “cómodo”, “pónei” e “facto” (em Portugal).

Como podemos perceber, os dois países vêm fazendo reformulações ortográficas ao longo de todos esses anos, com o objetivo de se chegar a uma unificação. O consenso, porém, ainda não existe. Várias são as manifestações de concordância e discordância a respeito da reforma. Os que se colocam a favor afirmam que, agora, os países de língua portuguesa dispõem de um instrumento de comunicação muito mais próximo, promovendo a formação de um bloco linguístico forte capaz de garantir a unidade da língua portuguesa. Já os que se posicionam contra ressaltam os inúmeros problemas da reforma ortográfica, que, devido a exceções descabidas, principalmente no uso do hífen, trarão mais dificuldades para o aprendizado do português e para sua divulgação, uma vez que todas as publicações futuras deverão se adaptar ao novo acordo, gerando um custo muito grande para o setor editorial em função de mudanças pouco profundas. Como se vê, teremos, a seguir, muitas cenas das próximas polêmicas...

(Coluna “No quintal das palavras”. Artigo publicado no Lagos Jornal, Ano V, nº 440, Cabo Frio, quinta-feira, 28-5-2009, p.4)

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

ARTIGOS NO LAGOS JORNAL







As professoras Mônica Cabral e Lívia Maria Cabral são colunistas do Lagos Jornal, publicação semanal sobre a Região dos Lagos.



Em sua coluna "No quintal das palavras", Mônica trata das dúvidas mais comuns da língua portuguesa, na fala e na escrita. Já Lívia, com a coluna "Muito além da brincadeira", aborda temas da infância e juventude com o olhar pedagógico.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

ATIVIDADES DO MÊS DE AGOSTO

No mês de agosto, as atividades do GELP foram intensificadas. Houve um aumento significativo do número de pessoas interessadas em conhecer mais e melhor a língua portuguesa. Os conteúdos cobrados nos concursos públicos têm sido alvo dessa procura, assim como o desenvolvimento da habilidade da escrita para a redação do ENEM.
O Português instrumental para alunos do curso de Direito está sendo muito procurado. Isso mostra que esses futuros profissionais estão descobrindo a importância dos conhecimentos linguísticos para um melhor desempenho argumentativo no texto jurídico, seja oral ou escrito.
A Metodologia Científica também passou a figurar entre as atividades do GELP, tendo em vista os pedidos de orientação para construir textos monográficos. Nesse caso, é impossível separar o desenvolvimento textual do tema dos elementos básicos de uma pesquisa científica, ou seja, o conteúdo precisa ser distribuído numa estrutura específica. Para isso, conhecer as várias estratégias de produção de texto é fundamental. No momento, estamos com trabalhos na área de Comunicação Social, tanto em Jornalismo como em Publicidade.
E como conhecimento nunca é demais, continuamos oferecendo atualização de conteúdos a professores de língua portuguesa.
Conhecer - e bem - nosso idioma é fundamental para desempenharmos nossas atividades sociais e profissionais com segurança. Se isso lhe parece difícil, o GELP pode mudar sua opinião. Venha conferir!